Agente de recuperação e controle de campo

Vencida a resistência de que agricultura e pecuária não coexistem na mesma terra, a pesquisa avança para mensurar o potencial da criação de gado na regeneração de áreas degradadas e no controle de plantas daninhas. Estudos realizados pela Embrapa Clima Temperado, de Capão do Leão (RS), com rebanhos doados por criadores da raça Angus avaliam o resultado do pastoreio em diferentes lotes da unidade experimental. O projeto, que tem apoio da Associação Brasileira de Angus, recebeu visita de comitiva de produtores e técnicos no mês de outubro de 2021 e segue em 2022 com o início efetivo das análises de campo.

Segundo o coordenador técnico da unidade, André Andres, ao longo de 2021, as equipes trabalharam na composição de áreas de pastagens, com introdução de espécies como azevém e trevos em zonas de cultivos sucessivos de arroz e soja e elevada presença de plantas daninhas. A meta é iniciar efetivamente o estudo em 2022 e, dentro de cinco anos, ter resultados concretos da recuperação desses lotes baseados em manejo de pastagem eficiente, envolvendo controle de plantas daninhas e adubação das áreas. “Estamos estudando a dinâmica de plantas daninhas com níveis de pressão de pastejo. Nossa hipótese é chegar ao fim destes primeiros cincos anos e poder dizer que a ILP reduziu a presença de capim-annoni, grama-seda, senécio, malmequer e buva, apresentando dados de produção de matéria seca vegetal e de carne”, pontua o pesquisador.

Em 2021, a opção foi pelo uso de azevém no inverno e pelo capim-sudão no verão. O estudo trabalha com média de 10 a 12 animais em uma área de quatro hectares, com adoção de janelas de 15 dias em alguns talhões para permitir rebrote, com adubação para repor o nutriente “exportado” via animal. No entanto, acrescentou Andres, o trabalho avaliará o desempenho das áreas submetidas a diferentes níveis de pressão de pastejo, na dinâmica de plantas e fertilidade do solo, ação que contará com a especialista em dinâmica de nutrientes no solo Walkyria Bueno Scivittaro.

Em outra área perto dali, a pesquisa está focada no aumento da atividade de microrganismos no solo de terras baixas provocado pela integração entre o gado nas pastagens de inverno e a agricultura no verão com manejo biológico.

Sob os cuidados da pesquisadora Maria Laura Turino Mattos, o experimento ainda não tem resultados finais, mas os primeiros indicativos são de que a presença de animais traz ganhos consistentes no aumento das enzimas totais no solo, fator atrelado diretamente ao aumento do conteúdo de matéria orgânica e nutrientes e, por consequência, produtividade. Trabalhando com microbiologia do solo na Embrapa, a pesquisadora implantou seus experimentos com soja no verão 2020/2021, em sistema de plantio direto, em uma área remanescente de pastejo no inverno, onde havia muita matéria seca de azevém. “Usei aquela área porque havia um pivô e precisava da irrigação como fator preponderante para o cultivo de soja em terras baixas. Durante o período do experimento, houve um problema no funcionamento do pivô, e conduzimos a lavoura com regime natural de chuvas”, recorda a pesquisador.

Crédito: Carolina Jardine

Apesar das dificuldades hídricas enfrentadas, Maria Laura conta que nessa área foi obtida produtividades acima de 80 sacas por hectare. “Quando fomos fazer a análise de enzimas totais do solo, após o cultivo, nos surpreendemos com o resultado, pois houve um aumento consistente de enzimas hidrolíticas que estão presentes nos microrganismos do solo como nunca havíamos encontrado“, disse, lembrando que as áreas de cultivo de arroz e soja no sistema convencional na região apresentavam baixos índices.

O estudo segue no verão 2021/2022, quando a pesquisa irá reavaliar os índices de microrganismos no talhão. A hipótese é que o resultado surpreendente de produtividade da soja advenha exatamente da combinação entre um aporte extra de matéria orgânica decorrente da biomassa de azevém, que retém a umidade do solo, da deposição de dejetos dos animais e do manejo biológico com adição de substâncias húmicas e coinoculação. “A integração lavoura-pecuária e o sistema de plantio direto são opções para melhorar os atributos biológicos do solo nessas áreas de arroz e soja caracterizadas pelo baixo conteúdo de matéria orgânica e de atividade biológica”, sugere.

Doações avançam 

O projeto de doação de animais Angus para a Embrapa Clima Temperado iniciou-se ainda em 2020 com a entrega dos primeiros lotes de fêmeas. Oficializada durante a Expointer 2021, a parceria ganhou novas adesões e vem sendo capitaneada pelo Núcleo Centro-Sul de Criadores da raça Angus. Até agora, 68 cabeças Angus já foram repassadas à Embrapa. As vacas estão prenhes de animais puros Angus e cruzas. A meta, segundo o coordenador do Núcleo de Pecuária da Unidade de Pesquisas, o pesquisador Jorge Schafhauser Jr, é atingir um rebanho de 150 cabeças.

Uma das entusiastas do projeto é a própria presidente do Núcleo Centro-Sul de Criadores da Raça Angus, Claudia Ferreira Talavera Campos. Tanto que a sua propriedade, a Estância Albardão, de Santa Vitória do Palmar (RS), também remeteu gado para a pesquisa em terras baixas. “Fizemos toda a articulação com o grupo de criadores da raça que respondeu de maneira positiva ao projeto”, comentou, lembrando que a apresentação de dados de desempenho é uma forma de reforçar o potencial que a raça Aberdeen Angus tem.

Crédito: Carolina Jardine

0 comentários on Agente de recuperação e controle de campo