Angus do Brasil em Angola
- Dia 05/07/2021
Interessadas em atender ao crescente mercado mundial de carne de qualidade que se expande em diferentes idiomas, nações vêm buscando nos criatórios brasileiros a genética necessária para alcançar os parâmetros exigidos por frigoríficos e consumidores de cortes premium. Paraguai, Equador e Angola são apenas alguns exemplos de destinos da produção de sêmen Angus do Brasil, num processo de internacionalização que tem grande potencial. Segundo dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), em 2019, o Brasil exportou 22.538 doses de sêmen Angus. Em 2020, os embarques foram arrefecidos por questões logísticas, mas a convicção é que há muito a conquistar.
Em se tratando de Angus, não há fronteiras. As características da genética desenvolvida no Brasil chamam atenção de investidores do outro lado do oceano Atlântico. Estamos falando de Angola, país africano que também já se tornou cliente da genética brasileira com o intuito de qualificar sua pecuária e o mercado de carne de qualidade por meio do cruzamento com suas raças locais.
A central ABS Pecplan recebeu em 2019 o primeiro contato de um grupo com terras no Brasil e em Angola interessado em adquirir genética nacional. “Vieram focados em Angus, não queriam outra raça, e nos deram a missão de selecionar os animais com maior valor nos quesitos produção e qualidade de carne”, conta Rodrigo Moraes, coordenador de Comércio Exterior da ABS. No primeiro embarque, foram mil doses, mas a previsão é que retornem às compras a cada dois anos, o que deve se repetir em 2021.
A compra voltada à produção de animais F1 promete ser o primeiro passo para a expansão da raça no continente africano. Moraes é otimista em relação a esse novo mercado, uma vez que a África está ampliando a busca por exemplares com pedigree brasileiro, especialmente animais de pelo curto e adaptados ao clima dos trópicos. “Sempre questionam sobre a pelagem, pois é uma característica fundamental no processo de adaptação ao meio”, afirma. A ideia é que, com o desenvolvimento dos primeiros lotes nascidos e análise do comportamento sob as condições do ecossistema local, o grupo retorne em busca de mais genética Angus nacional.
A procura por um animal precoce, rústico, com grande habilidade materna, produtivo a pasto e adaptado a altas temperaturas, além de resistente a ectoparasitas, motivou um dos primeiros clientes Angus no Equador a optar pela genética brasileira. A Cabanha Romero Ranch, localizada na província de Sucumbios, fez sua estreia no dia 15 de junho de 2019 no leilão da Fazenda São Marcos, quando arrematou parte da fêmea Verdana TEI68 Candelero, consolidando parceria com a Verdana Pecuária e com a São Marcos. A data marcou formalmente o início de um trabalho de melhoramento do rebanho da Romero Ranch a partir do uso de Angus nos trópicos. “O propósito é adaptar o Angus no Equador em cada região do país, seja meio sangue ou puro. Dessa forma, queremos suprir a necessidade do mercado nacional e nos tornarmos competitivos no mercado mundial de carne de qualidade”, afirma o criador Mateo Romero Daza.
A fazenda, capitaneada pelo pai Alexis Romero Lastra, pretende revolucionar a produção de carne no Equador, num trabalho que almeja tornar os produtos Angus obtidos por meio de cruzamento com vacas Nelore, Brahman ou Gir animais resistentes a qualquer tipo de solo e clima do Equador. “Há propriedades de zero a 3.300 metros acima do nível do mar, mas já percebemos que o Angus fruto de cruzamento com raças zebuínas tem grande potencial de fomentar nosso trabalho de produção de carne mesmo nessas condições”, declara Daza. Segundo ele, o mercado equatoriano está ávido por carne premium, e essa ausência em breve começará a ser preenchida, se depender do trabalho que a Romero Ranch está implantando por lá. “Nossa responsabilidade é suprir essa necessidade por carne de qualidade, e temos certeza de que vamos conseguir com o uso da genética Angus”, garante o criador.
Confiante quanto aos resultados do Angus do Brasil, a Romero Ranch fez seu segundo investimento neste ano, ao adquirir no remate da Agropecuária Casa Branca, em setembro, 50% do reprodutor PWM Antony, que também será empregado na exportação de sêmen para o Equador. A ideia é que o touro seja um divisor de água na pecuária do país. “Será uma nova era a partir da raça Angus”, vislumbra o empresário.

Crédito: Gabriel Olivera
Mercado consolidado no Paraguai
A conquista de novos mercados para a genética Angus vem do somatório da expertise de empresas do segmento de genética bovina e do esforço de criatórios de ponta em ofertar sêmen de touros comprovados e com potentes marcadores de desempenho. Qualificação que atraiu o produtor paraguaio Clodoaldo Favarin de Oliveira, que recentemente inseminou 300 vacas Nelore com sêmen Angus brasileiro. Há 15 anos à frente da Agropecuária AGM, em La Paloma, o criador pretende repetir em breve a compra para ampliar a cobertura do rebanho, que soma 700 matrizes Nelore. “Temos um mercado consumidor hoje bastante focado na carne superior, especialmente na capital (Assunção), e é esse nosso objetivo com a aquisição da genética Angus brasileira”, pontuou. A superioridade dos produtos cruza Angus reflete-se no bolso: o quilo da carne tem uma valorização de US$ 0,10, o que significa US$ 1,50 a mais por arroba. A venda da produção é pulverizada em unidades de abate da região, o que inclui uma planta do frigorífico Minerva.
Resultados positivos também vêm das fazendas que o pecuarista brasileiro Antônio Aurico Flores tem nas cidades paraguaias de Ypejhú e Katueté. Seus produtos frutos de inseminação artificial se destacam por alto índice de nascimento, homogeneização e uniformidade dos lotes, além de velocidade de ganho de peso.
A bezerrada nos campos é motivo de comemoração do produtor, que deixa clara a assertividade da raça Angus para qualificar seu plantel, hoje com duas mil matrizes Nelore no Paraguai e outras 1.500 no Mato Grosso do Sul, na cidade de Juti. “Estou muito satisfeito e posso dizer que atendeu ao meu propósito, que é o de produzir um animal que se enquadre nas exigências da indústria”, conta. Segundo ele, é no quesito padronização que a raça se destaca, pois o emprego da genética Angus garante uma baixíssima variabilidade entre lotes, fator fundamental para a valorização mais na ponta da cadeia produtiva, que, em muitos aspectos, especialmente no quesito exigência, assemelha-se à do Brasil.
A primeira carga de sêmen adquirida do Brasil foi há dois anos e inclui 3 mil doses de touros consagrados, entre os quais Don Laboro, Cambaretã e Blackout. “Trabalhamos com foco na fertilidade do sêmen, o que nos garante alto índice de prenhez com fêmeas emprenhando já no primeiro serviço”, detalha Flores.
Os criadores são clientes da Zebu Fértil, cujos sócios apostaram no mercado do Paraguai e, desde o ano passado, negociam sêmen para o país vizinho. Com sede em Campo Grande (MS) e filial no Paraguai, a empresa vem fomentando a pecuária de lá com a venda de sêmen Angus e tem como parceiros tradicionais criatórios de Angus do Brasil no fornecimento de genética, como Três Marias, Recalada e La Coxilha.
Atualmente são oito touros em serviço e há uma previsão de exportar 50 mil doses de sêmen por ano para aquele mercado. As doses são utilizadas para inseminar matrizes zebuínas, geralmente das raças Nelore e Brahman. “Cerca de dois terços dos nossos clientes no Paraguai são brasileiros que estão investindo no cruzamento industrial, utilizando a genética Angus para padronização e uniformização do rebanho, sempre visando o mercado de carne de qualidade”, afirma o diretor comercial Ney Conti. Segundo ele, em cruzamento industrial, o Angus brasileiro se mostra imbatível nessa função. “A genética é superior, com melhor transferência das características de adaptação ao ecossistema”, destaca.
0 comentários on Angus do Brasil em Angola