Tá com o braço na minha vaca?
- Dia 20/05/2021
O médico-veterinário João Pedro Veiga Silva, 23 anos, saiu de casa cedo naquela manhã para visitar mais um criatório de Angus no interior de São Paulo. A missão era levar orientação técnica ao pecuarista Wilson Luís Zani na produção da Fazenda Angus da Aurora, em Promissão (SP). Pontual como de costume, o técnico de Fomento da Associação Brasileira de Angus chegou à propriedade com o Manual do Criador em punho e pronto para detalhar os ganhos de ser um Produtor Carne Angus e de trabalhar com a genética da raça. Mal sabia ele que aquele seria um dia de lida. Enquanto esperava por Zani, uma vaca entrou em trabalho de parto. “Quando o criador chegou, eu já estava contendo a vaca, retirando o bezerro. Daí ele disse: ‘Oi, bom dia! Quem é você?'”.
Constrangido com a intimidade repentina, mas convicto de que o socorro ao ventre era necessário, Veiga não titubeou: “Eu sou o João Pedro, técnico de Fomento da Angus”. Surpreso, o criador não perdeu a oportunidade: “E você está com o braço dentro da minha vaca?”, provocou, em tom de risada.
Apesar de não ser novidade para quem conhece a lida de campo, o episódio resume o espírito do time da Associação Brasileira de Angus. O novo técnico de fomento já chegou com o mesmo entusiasmo dos inspetores técnicos que atuam em todas as regiões do Brasil. Novato na Angus, Veiga foi contratado para dar vida a um novo projeto de pós-venda da associação. A ideia é garantir que criadores e novos empreendedores da raça tirem o maior proveito de seus investimentos. De janeiro a novembro de 2020, Veiga percorreu 16,7 mil quilômetros passando por estados como Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para orientar os pecuaristas sobre o uso da genética de touros e ventres Angus registrados por meio de inseminação ou monta, em rebanhos puros e cruzados.
Segundo ele, o que vem chamando atenção de pecuaristas como Zani é a simplicidade e proatividade da acolhida da associação. “Ele me disse que esperava um técnico um pouco diferente, um mais engomadinho. E é realmente isso. A gente mostra serviço, sai do paletó e coloca a mão na massa para ajudar os criadores”, destaca Veiga. Para Zani, foi surpreendente chegar à propriedade e encontrar um “caboclo de chapéu” contendo a vaca. “Achei até que fosse outro funcionário da fazenda”, afirma.
Zani conta que começou a criar Angus em 2015, utilizando touros da raça no cruzamento com vacas Nelore. Hoje, segundo o criador, 50% do rebanho já é de fêmeas meio-sangue. “Atualmente, 90% das vacas são inseminadas, e nós estamos buscando melhorar cada vez mais a linhagem com a Angus”, ressalta o pecuarista, que recebe orientação direta do inspetor técnico da Angus Rednilson Moreli Gois.

Veiga realizou parto de ventre do pecuarista Wilson Zani, em Promissão (SP)/ Crédito: João Pedro Veiga Silva
No decorrer dos encontros com criadores experientes e com novos investidores, o corpo técnico repassa informações e dicas sobre melhoramento genético, manejo, rentabilidade, desmame, controle de carrapato, produção de carne de qualidade, cruzamento e estratégias sanitárias, nutricionais e reprodutivas. “Nós buscamos sanar as dificuldades enfrentadas pelos criadores para que, consequentemente, a raça venha se expandir cada vez mais. Se o pecuarista tem problema com carrapato, por exemplo, e, por isso, o gado não está caminhando bem, vamos lá e buscamos resolver o problema. Automaticamente, o desempenho do animal será melhor, e o feedback para a raça, também”, explica Veiga.
Na jornada de Veiga pelo Brasil em 2020, foram realizadas visitas a propriedades com gado puro e cruzado. “O nosso foco com pecuaristas que trabalham com gado cruzado é levá-los ao Programa Carne Angus Certificada. Por isso, nesses casos, abordamos mais informações sobre o manejo. Com produtores de bezerros, damos dicas de como ter um animal com ótima terminação, com cobertura de gordura acima de 3mm para que possa ser bonificado por gordura, por exemplo”, detalha o técnico.
Atenção às fêmeas
Segundo o gerente de fomento da Associação, Mateus Pivato, outra linha de ação foi ir a campo auxiliar no uso de fêmeas adquiridas na Temporada de Primavera de 2020 tendo em vista que, geralmente, há intenção de continuar registrando e dar início à seleção de genética. “De forma geral, as visitas também servem para que a Angus dê as boas-vindas aos criadores que entram na raça, leve novidades e possibilite novas parcerias. Porém, o mais importante é que os encontros estreitam a relação dos pecuaristas com a associação.” De acordo com Pivato, o trabalho em busca de excelência genética e qualidade da carne começa dentro das porteiras e, ao auxiliar os criadores, a Angus contribui para a evolução da raça desde o ponto inicial do sistema produtivo.
Apesar da alta quilometragem do time Angus, em função da pandemia, o ritmo das visitas não saiu como o planejado. Após uma pausa, Veiga pegou a estrada novamente e retomou os encontros com os criadores, com todos os cuidados exigidos, como uso de máscara, álcool gel e distanciamento social. Além de encontros nas propriedades, o técnico realizou visitas a frigoríficos parceiros do Carne Angus e à Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais. Veiga participou ainda dos dias de campo da Fazenda Modelo, em Pedro Gomes (MS), e da Fazenda Angus da Limeira, em Guarapuava (PR).
Mais do que uma visita
O criador Filipe Cardoso abriu as porteiras da Fazenda e Haras do Netinho, em Tanguá (RJ), ao técnico de Fomento da Angus, após adquirir nove fêmeas e 11 machos no Leilão Genética Sem Fronteiras 2020, realizado pela Programa Leilões e Parceria Leilões no final do mês de outubro. “Nosso objetivo inicial era arrematar somente machos para fazer meio-sangue comercial, mas acabamos comprando as vacas também”, explica Cardoso, que administra a propriedade ao lado do pai Netinho Cardoso.
O produtor ressalta que há alguns anos vem amadurecendo esse projeto e buscando a raça ideal. E foi então que surgiu a oportunidade de utilizar a genética Angus. “Compramos algumas vacas Nelore prenhas de Angus, e os bezerros meio sangue que nasceram nos encantaram. Por isso, decidimos adquirir os animais Angus em outubro”, conta Cardoso. Na propriedade, Veiga orientou de forma prática o criador quanto ao manejo dos animais, separação dos bezerros, agrupamentos de lotes para o Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo) e outros. Para Cardoso, a consultoria no local de visita serviu para orientá-lo no início da criação de Angus. “A visita do João foi de extrema importância e nos surpreendeu, pois nenhuma outra associação, seja de bovino ou de equino, tinha enviado um técnico para orientação antes. Achei importantíssimo isso”.

Técnico de Fomento da Angus deu dicas práticas ao criador Filipe Cardoso, em Tanguá (RJ)/ Crédito: Mirian Freitas
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