Programa de fomento à avaliação por ultrassom completa 10 anos em 2021
- Dia 13/05/2021
Em 2021, o Programa de Fomento à Avaliação de Reprodutores por Ultrassonografia completa dez anos com a meta de subsidiar mais 3,4 mil exames, maior quantidade de interpretações de imagens financiada pela Associação Brasileira de Angus. Ao longo da última década, o projeto mensurou indexadores de 15.447 exemplares com resultados de avaliação ao sobreano e ultrassonografia de carcaça incorporados à base do Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo). Informações que, inicialmente, eram coletadas apenas dos machos, mas, em 2015, passaram a ser mensuradas para os ventres e, hoje, são essenciais para a aplicabilidade das DEPs Genômicas em características relacionadas à produção de carne e ganho econômico.
Proprietária da Cia Azul Agropecuária, de Uruguaiana (RS), Susana Macedo Salvador, acompanhou de perto o início do uso da ultrassonografia de carcaça na raça Angus. Ela relata que, antes da criação do Programa de Fomento em 2011, alguns criadores já utilizavam a tecnologia como ferramenta de seleção em seus rebanhos. “Mas, na época, isso ainda era feito de forma tímida”, lembra.
Com o passar dos anos, porém, diversos criadores aderiram à tecnologia para selecionar exemplares melhoradores. Prova disso é o crescente número de animais testados no sobreano pelo Promebo com resultados para avaliação genética de ultrassonografia de carcaça. Para se ter uma ideia, na primeira geração contemplada pelo incentivo, composta por animais nascidos em 2009, cerca de 20% dos machos e 5% das fêmeas foram beneficiados. Na geração 2018, esse índice ultrapassa 50% dos machos e 30% das fêmeas, conforme dados do Promebo.
Ao longo destes quase dez anos, 10.037 machos e 5.410 fêmeas com avaliação para sobreano também geraram resultados para a ultrassonografia de carcaças no Promebo. “É evidente e extremamente bem-vinda, no âmbito da pecuária nacional, a influência positiva deste tipo de prática, uma vez que possibilita a seleção de animais para características herdáveis de interesse do mercado. Saudamos a Associação Brasileira de Angus pela iniciativa, pela visão e pela manutenção desta importante política de fomento”, afirma Eduardo Barbachan, analista de dados do Promebo.

Crédito: Gilberto Pötter Garcia
O ultrassom permite que o criador tenha acesso antecipado a informações que só poderiam ser analisadas após o abate, garantindo velocidade à seleção de animais dentro das propriedades. Para se ter uma ideia, sem a tecnologia, a análise de características como Área de Olho de Lombo (AOL), Espessura de Gordura Subcutânea (EGS), percentagem de Gordura na Picanha (EGP8) e Gordura Intramuscular (Marmoreio) levaria cerca de cinco anos para ser expressada – um ano para o terneiro nascer, dois anos para entrar em reprodução e dois anos para o abate. “Com o ultrassom, com aproximadamente meses, o produtor já pode ter um estimativa quanto à qualidade da carcaça de seus animais”, explica Jaime Tarouco, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
É dessa forma que, segundo Leandro Lunardini, proprietário da Meat Science Consultoria, diminui-se o tempo e o intervalo entre gerações e, como consequência, eleva-se o ganho genético das mesmas. Ao selecionar os animais conforme seu potencial carniceiro, os pecuaristas têm ainda a possibilidade de buscar os melhores acasalamentos, os quais, conforme Lunardini, proporcionam maiores ganhos genéticos, aumentando a frequência dos genes que controlam essas características no rebanho. “O melhoramento genético provoca um efeito cascata. Quanto melhor utilizado nos rebanhos núcleo de seleção, maiores são os ganhos nos rebanhos multiplicadores e de produção”, afirma.
Pioneirismo
Um dos produtores pioneiros na utilização da tecnologia é Ulisses Rodrigues Amaral, da Cabanha Santa Joana, de Santa Vitória do Palmar (RS). Desde 2001, incentivado pelo professor Jaime Tarouco, Amaral faz uso da ultrassonografia em seu rebanho para avaliar características de carcaça. Até hoje, o criador não abre mão da ferramenta que, segundo ele, é indispensável para quem trabalha com melhoramento genético. “A seleção é essencial para que se tenha carcaças mais precoces e para que se consiga identificar animais com melhor rendimento de corte comercial”, declara, reforçando que apostou na tecnologia antes mesmo de a Angus subsidiá-la.
Hexacampeã do troféu Mérito Genético, a Cabanha Santa Joana avalia de 200 a 250 animais por ano. Ou seja, desde 2001, aproximadamente 4 mil animais da propriedade foram analisados.
Na Cia Azul Agropecuária, as avaliações são feitas desde o início do Programa de Fomento à Avaliação de Carcaças por Ultrassonografia, e as informações utilizadas para seleção genética do plantel. Susana Salvador acrescenta que se nota que o interesse dos criadores pela ferramenta aumentou nos últimos anos. “E isso talvez por uma demanda de mercado, onde compradores de sêmen e criadores estão cada vez mais buscando dados objetivos para sua seleção. No decorrer destes dez anos, se olharmos para as curvas de tendência genética das características avaliadas, percebemos que houve um progresso em todas elas. O que nos confirma que estamos no caminho certo”.
Para alcançar o nível de atuação que se tem hoje no Programa de Fomento, foi necessário percorrer um caminho de muito esforço e trabalho. Tarouco lembra que, no início, os aparelhos utilizados não resultavam em imagens com tanta qualidade quanto as dos empregados atualmente. “As inovações fizeram com que se aumentasse a acurácia das medições, principalmente da gordura intramuscular. Onde eu tenho uma melhor qualidade de imagem, eu tenho uma melhor estimativa da quantidade de gordura intramuscular”, explica. O sistema de ultrassonografia é composto por uma unidade principal, ou seja, o próprio ultrassom e por um notebook com um software específico para medição das características.

Crédito: Gilberto Pötter Garcia
Referência em seleção Angus, a criadora Vivian Potter, proprietária da Agropecuária Quiri, de Dom Pedrito (RS), acrescenta que a seleção genética não pode ser baseada em somente uma informação, e sim em um conjunto delas. E, nesse sentido, a ultrassonografia de carcaça vem agregar. “É mais uma informação para tentar avançar neste processo tão difícil que é a seleção genética”, diz.
Segundo Vivian, em sua cabanha, a preocupação sempre foi buscar animais carniceiros, que respondam no frigorífico e expressem todas as características inerentes à Angus, como maciez, precocidade, cobertura de gordura, e que, além disso, o reprodutor transmita-as quando for usado nos diferentes rebanhos. “O conjunto de dados do genótipo, aliado ao fenótipo, vem contribuir para seleção genética e melhoria da raça”, defende.
Ao acrescentar na seleção dos animais dentro das porteiras, a ultrassonografia garante uma carne de alta qualidade aos consumidores, que esperam maciez, suculência e sabor dos produtos que estampam o Selo Angus. “Acredito que é nossa responsabilidade ofertar no mercado uma carne com alto marmoreio, com uma boa cobertura de gordura e com uma área de olho de lombo do tamanho que a indústria e o mercado procuram. Essa ferramenta da avaliação por ultrassonografia de carcaça nos possibilita ganhos genéticos nessas características”, afirma Susana.
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