Seleção x produção

De olho na crescente demanda por sêmen Angus para cruzamento industrial no Brasil, as centrais de inseminação artificial vêm reforçando suas baterias com novos reprodutores. Em um mercado que já ultrapassa a casa das 5 milhões de doses por ano, há dezenas de reprodutores comercializando sêmen no mercado nacional. Com um grande leque de produtos na prateleira, o pecuarista que está disposto a utilizar Angus em seu plantel para produção de animais meio-sangue precisa estar atento para fazer a escolha certeira. Entre os diversos indexadores que estão disponíveis para orientar essa decisão, o tamanho do touro é a chave do sucesso.

Segundo o zootecnista e coordenador do Programa Carne Angus Certificada no Brasil Central, Maychel Borges, o pecuarista precisa ter bem claro em qual sistema de criação irá colocar esses animais. O uso de touros de frame mais elevado (6-7) resultará em produto que exigirá muita oferta de comida em sistemas confinados que permitam desenvolvimento de carcaça de forma precoce e lucrativa, muitos com reforço de creep feeding. Propriedades onde se adotam sistemas semiconfinados e menos intensivos, alerta o especialista, devem optar por reprodutores de frame moderado (5,5). “Touros maiores geralmente demandam mais energia e intensificação de manejo para conseguir entregar uma carcaça ao frigorifico capaz de render as bonificações por qualidade. Animais moderados são mais fáceis de ‘encher’. Esse é o pulo do gato no negócio”, argumenta Borges. Atualmente, as carcaças que são habilitadas no Programa Carne Angus chegam a receber adicional de até 12% no gancho, sem considerar os ganhos que a genética Angus confere ao processo produtivo, encurtando o período de engorda em até um ano em relação ao Nelore e ainda deixando um bezerro na fazenda.

Escolher bem o touro já ajuda a aparar importantes arestas que, no passado, trouxeram muita dor de cabeça a quem se laçou a empreender no cruzamento industrial. “A Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF) foi a tecnologia que revolucionou a pecuária de corte do Centro-Oeste, possibilitando o uso de genéticas taurinas, principalmente da Angus no cruzamento industrial.” Um dos principais erros que se pode cometer, aponta Borges, é não ter bem claros os objetivos que se busca alcançar com a criação. Primeiro, recomenda ele, o criador precisa saber se quer criar Angus para vender os bezerros, entregar animais pesados sem pensar na qualidade ou produzir produtos diferenciados para um mercado que remunera melhor pela carcaça. “Quando me perguntam sobre que genética escolher para uma vacada, sempre digo que é preciso olhar de trás para a frente”.

Após compreender os objetivos e escolher o porte do touro de acordo com eles, o pecuarista ainda deve observar dados que  lhe permitam produzir F1s com rápido ganho de peso (DEPs para ganho de peso do nascimento a desmama e ganho de peso da desmama ao sobreano), precocidade e facilidade de acabamento de gordura (DEP para Espessura de Gordura Subcutânea e Espessura de Gordura na Picanha), bom desenvolvimento muscular (DEP para Área de Olho de Lombo), e marmoreio (DEP para Gordura Intramuscular). “É esse o produto que o consumidor deseja e, consequentemente, é por ele que os frigoríficos pagarão bonificação ao produtor.”

Você encontra esse e mais conteúdos do Anuário Angus 2019 aqui.

Crédito: Carolina Jardine

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