O que se espera de um touro de Central?

Um mercado que vem crescendo forte nos últimos anos para quem trabalha com genética de ponta é a contratação de touros nacionais por centrais de inseminação. Em uma temporada de genética valorizada, o que se tem visto é um aumento expressivo da incorporação de reprodutores nacionais nas baterias das principais empresas do ramo. Além dos ganhos com a venda direta de sêmen, o criador que tem seus animais na mira das centrais também desfruta de valorização extra nas pistas de remate, com preços chegando à casa dos três dígitos. Mas, afinal, o que torna um reprodutor de ponta um touro de central? E o que leva o usuário a escolher um reprodutor ao invés de outro? As respostas para essas questões não são simples e dependem da estratégia de mercado de cada uma das centrais e dos próprios usuários.

Contudo, uma exigência é unânime quando se fala nesse mercado: é preciso dados confiáveis. A importância dos indexadores relacionados diretamente a desempenho econômico, como ganho de peso e marmoreio, vem aumentando, assim como a dos testes de eficiência alimentar, uma característica essencial para quem trabalha com confinamento.

Atestando expansão “supreendente” na venda de sêmen Angus no Brasil, a Genex contratou dois touros nacionais para atender a demandas internas e externas em 2019. O que se busca ao eleger esses reprodutores, garante a gerente de produto corte, Juliana Ferragute, é o equilíbrio, ou seja, animais com ótima avaliação genética, biotipo produtor de carne e consistência de pedigree. “Não estamos buscando quantidade, e sim qualidade nos principais rebanhos nacionais.”

Outra empresa que vem investindo pesado para aproveitar esse mercado em expansão é a ABS Pecplan. Apesar de trabalhar majoritariamente com sêmen importado e de estar ampliando a capacidade de coleta em Wisconsin, nos Estados Unidos, também vem realizando investimento no  Angus nacional em Uberaba (MG), uma vez que a produção local blinda os custos da cotação do dólar e ainda evita a espera pela importações.

Segundo o gerente de Produtos e Projetos Corte Europeu da ABS, Marcelo Selistre, ao procurar um reprodutor, o cliente geralmente busca pelo índice de fertilidade do sêmen na IATF. Em seguida, vêm as características de desempenho, ganho de peso e de carcaça. Também destaca a busca por touros de alto marmoreio para atender a programas de carne de qualidade.  Outra questão essencial a ser avaliada na hora da contratação é a eficiência alimentar desses reprodutores. Isso porque, como a maioria será utilizada em confinamento, os clientes buscam por animais com bons índices de acabamento de carcaça e de alto peso. Pensando exatamente no mercado do cruzamento industrial, a empresa lançou o ABS XBlack, o índice econômico para cruzamento industrial que mede o desempenho dos animais F1 Angus-Nelore no Brasil. “Isso nos permite comparar os animais nacionais e os importados, e faz parte do projeto de adquirir mais touros Angus nacionais para obter uma produção brasileira baseada principalmente no ABS XBlack”, frisou Selistre.  De acordo com ele, o mercado do terneiro valoriza mais o cruzado, pois é muito eficiente no confinamento e tem opção de venda para exportação de gado em pé. “Esse é o motivo do crescimento da raça Angus. Mais do que uma expectativa, temos a certeza sobre o crescimento dessa raça no Brasil.”

Empresa com maior percentual de touros nacionais em sua bateria, a CRV Lagoa confia na expansão do mercado na casa dos 20% ao ano e busca por reprodutores com boas DEPs, homozigotos e com bons índices de fertilidade na IATF, características que estão no cheklist de seus clientes. O gerente de Produtor Corte Europeu, Fabio Girardi Frigoni, explica que a estratégia é investir no reprodutor local porque os animais são, geralmente, mais adaptados.

Já a médica veterinária da Renascer Biotecnologia, Cecilia Pavin, explica que a central localizada em Uruguaiana (RS) tem como filosofia a busca por animais selecionados, com características que venham a melhorar os rebanhos e principalmente suprir as demandas. Apesar de admitir que a escolha por um reprodutor é muito particular e depende principalmente do objetivo da propriedade e da região em que a mesma está localizada, algumas questões são chaves como ser homozigoto, ter pelo curto, baixo peso ao nascer e boa fertilidade.

O gerente de Corte Taurino da Alta Genetics, Miguel Abdalla, empresa que tem investido massivamente na compra e na contratação de touros, completa que as características econômicas e as de qualidade  de carne são cada dia mais demandadas. Segundo ele, independentemente da origem, deve-se olhar para as avaliações genéticas e através delas encontrar o melhor indivíduo para cada sistema de produção.

Avanços pela frente

Mas ainda há muito a melhorar. Segundo Juliana Ferragute, da Genex, os testes de progênie dos programas brasileiros deveriam provar touros com maior velocidade e focar a seleção para os mercados que consomem a maior quantidade de sêmen de Angus e questionar o biotipo de touro de que eles precisam. “Com um sistema adequado de cruzamento industrial, o que se procura é a velocidade de ganho e acabamento. Assim, outro ponto que pode melhorar é a parte de acabamento das carcaças.” Hoje, o Promebo, por exemplo, já incrementou um índice econômico de carcaça, digno de reconhecimento, que é uma tendência global sobre os programas de melhoramento genético.

O criador e proprietário da CB Genetics, Paulo de Castro Marques, informa que busca reprodutores que possuam equilíbrio entre características de fenótipo, desempenho e dados. “Estamos atentos ao mercado, objetivando acompanhar o trabalho de outros projetos pecuários. De nossa parte, temos um intenso trabalho de seleção, que envolve uma série de etapas.” Além dos dados de avaliação dos seus reprodutores realizada pelo Departamento de Melhoramento Genético da Universidade Federal de Lavras, a Casa Branca considera os dados da avaliação de carcaça por ultrassonografia e o Teste de Eficiência Alimentar. “A confiança dos criadores brasileiros em reprodutores nacionais está aumentando rapidamente à medida que eles comprovam, em suas propriedades, o excelente resultado dos touros melhoradores adquiridos de programas de seleção focados na busca de produtos férteis, precoces e funcionais.”

Você encontra esse e mais conteúdos do Anuário Angus 2019 aqui.

Crédito: Carlina Jardine

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