Vivendo o sonho todas as manhãs

Foto: Julyanne Borges Teixeira Paletta

Foto: Julyanne Borges Teixeira Paletta

 

Entre três gerações de farmacêuticos, o inspetor técnico Ricardo Teixeira Paletta, de 42 anos, escolheu seguir o que seu coração mandava fazer. Tornou-se o único médico veterinário da família, após uma longa jornada de lutas. Desde criança, morando na zona urbana de Belo Horizonte (MG), o menino contava os dias para as visitas que fazia à Fazenda do Funil, propriedade dos já falecidos avós maternos, Jofre de Magalhães Teixeira e Maria Angelina Furtado Teixeira. O período de férias da escola era o mais aguardado, quando ele percorria 450 quilômetros até Silvianópolis (MG) e, ao lado do avô, cuidava do gado de corte e leite nos 107 hectares da propriedade.

Em 1983, seus pais, Moacyr Affonso Paletta de Cerqueira, já falecido, e Maria Eulália Teixeira Paletta de Cerqueira, 73 anos, decidiram acabar com a distância e mudaram-se para a zona urbana de Silvianópolis. A partir dali, apenas três quilômetros separavam o menino, na época com nove anos, do lugar que mais gostava. “Perdi as contas de quantas vezes fiz o percurso de bicicleta”, conta. Para ajudar o avô com as tarefas do campo, acordava cedo e “corria” gado, contava os animais e auxiliava na ordenha das vacas, que, em média, rendiam 750 litros de leite por dia.

Foi toda essa influência que ajudou Paletta a desenvolver seu amor pela lida de campo. Em 1994, após um ano de cursinho, prestou vestibular para Medicina Veterinária e passou na primeira tentativa. Aos 18 anos, ingressou no curso na Universidade de José Rosário Vellano (Unifenas), na cidade de Alfenas (MG). A família sempre apoiou a decisão em fazer o que ele gostava. “Meu pai dizia que eu tinha que acordar e levantar para trabalhar com o que gosto”, revela. Durante o curso, nas disciplinas de bovinos de corte e leite, Paletta teve seu primeiro contato com a Angus. “Nos dias de campo, eu via que a raça se destacava, era diferenciada”.

No entanto, devido às dificuldades financeiras, Paletta teve de parar de estudar durante os anos de 1996 e 1997. Mesmo assim, continuava trabalhando na fazenda e guardando dinheiro para dar seguimento à sua grande paixão. Mais tarde, em 1998, graças ao Programa de Financiamento Estudantil (Fies), retornou ao ambiente acadêmico e conseguiu continuar os estudos. Em março de 2000, já com 25 anos, formou-se como médico veterinário. Logo após, devido aos contatos que adquiriu durante o seu estágio supervisionado, foi para a cidade de Juiz de Fora, na zona da mata mineira, para trabalhar com reprodução e sanidade animal durante cerca de um ano e meio.

Nesse período, em 2002, conheceu a advogada Julyanne Borges Teixeira Paletta, 40 anos, com quem é casado desde 2004 e tem dois filhos, André, hoje com 10 anos, e Fernanda, de oito anos. “O mais velho gosta muito do campo, mas ele é de uma geração diferente, mais tecnológica”. A família viaja quase todo fim de semana para a Fazenda do Funil, além de visitar, também, o Sítio Santa Bárbara, da família de Julyanne, também em Silvianópolis.

Nesse mesmo ano, depois de trabalhar como autônomo por algum tempo, a Cooperativa Agropecuária de Jacutinga (Coapeja) apareceu na vida do médico veterinário. Paletta fez as malas e foi morar em Jacutinga (MG) para atuar em seu primeiro emprego na área. Na cooperativa, teve contato com gado de corte, na área de produção e reprodução. Para ampliar seus conhecimentos, em 2005, o médico veterinário fez pós-graduação em produção e reprodução de ruminantes na Universidade Federal de Lavras, aproximadamente 300 quilômetros de onde morava. Com isso, Paletta pôde ter mais contato com a Angus, estudando os aspectos reprodutivos que a raça possui.

Paletta continuou trabalhando na cooperativa, aprimorando seus conhecimentos no ramo de melhoramento genético, um dos seus preferidos na pecuária, e ampliando seus contatos na região dos estados de São Paulo, Goiás e Rio de Janeiro. Em 2015, ao entrar no site da Associação Brasileira de Angus, viu que o cadastramento para inspetores técnicos estava disponível. “Eu tinha vontade de crescer e fazer história e vi na raça a oportunidade”. Depois de algumas etapas de seleção, em agosto de 2016, numa turma de dez colegas, Paletta foi credenciado como inspetor técnico da Angus.

Durante a sua atuação, um dos grandes desafios foi justamente na segunda inspeção da carreira, em março deste ano, com o rebanho do criador Paulo Marques, ex-presidente da Angus. “Fiquei muito orgulhoso. É uma responsabilidade muito grande”, afirma, destacando que está focado em conquistar a confiança de pecuaristas e colegas do campo. “É um trabalho de formiguinha”, revela. Para ele, a missão está sendo cumprida. Todas as manhãs Paletta acorda para fazer o que sempre sonhou. “É um trabalho muito prazeroso”.

Formação: Medicina Veterinária na Universidade de José Rosário Vellano (Unifenas)
Natural de: Belo Horizonte (MG)
Região de atuação: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro
Qual foi a primeira vez que ouviu falar na raça Angus: durante a faculdade, na disciplina de Bovinocultura de corte
Há quanto tempo atua junto à Associação Brasileira de Angus: um ano
Uma receita infalível com carne Angus: Costela ripada na brasa
Um rebanho inesquecível: Fazenda Três Marias, na Argentina

Texto: Vitorya Paulo

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