Um caminho marcado por escolhas
- Dia 05/06/2017
Quem vê o médico veterinário Flávio Alves (Flavião) nas pistas desse Brasil com a convicção de quem cresceu no campo, não imagina a luta travada para atuar onde a natureza lhe levou. Nascido em uma tradicional família de quatro gerações de médicos de Porto Alegre (RS), teve que enfrentar os pais para seguir seu destino e fazer do campo o seu local de trabalho. Seu bisavô era o renomado médico porto-alegrense Protásio Alves – aquele que dá o nome à tradicional avenida na Capital – caminho também seguido pelo avô e pelo pai. “Éramos em quatro irmãos e sofremos pressão para que alguém seguisse a carreira médica. Eu falava que gostava de animais e que queria ser veterinário, mas meu pai dizia que não era uma profissão bem remunerada”, lembra. “Foi um grande dilema para mim que sempre fui convicto de que temos que fazer o que gostamos, com profissionalismo, seriedade, foco e comprometimento, sendo a remuneração uma consequência natural. Na época foi muito difícil a decisão”.
Então, em 1980, ele tentou atender aos anseios do patriarca. Engavetou os sonhos e ingressou no curso de Direito. Após três semestres, as burocráticas aulas lhe trouxeram a certeza de que aquele mundo não era o dele. “Aproveitei que as aulas eram muito chatas e li toda a obra O Tempo e o Vento de Érico Veríssimo, para mim, uma leve leitura de mais de 1000 páginas, me aguçando ainda mais o desejo de ir para o campo. Eu queria me realizar profissionalmente e fui atrás da minha vocação”, afirma emocionado o homem de 55 anos, pensamento rápido e risada fácil.
Convicto do caminho a seguir e motivado pelos amigos que já tinham tido a coragem que lhe faltou e já desfrutavam da vivência campeira da Fronteira Oeste, Flavião fez vestibular escondido da família para a PUC de Uruguaiana. Aprovado, chegou com o resultado em mãos, fez as malas e deu o primeiro passo para sua nova vida. Um amor que nasceu ainda na infância, quando passava os finais de semana na fazenda do pai, na localidade de Quitéria, no município de São Jerônimo. A constatação de que a vida no campo era a sua escolha foi quando, na adolescência, optou em passar as férias de verão na fazenda, descartando a temporada de praia em Torres. A prancha de surf foi substituída pelo lombo do cavalo.
A faculdade foi concluída em 1985 e, em seguida, o médico veterinário foi acompanhar o dia a dia de seu primo José Carlos D’Azevedo (Zeka), na época veterinário da Cabanha Azul, em Quaraí. Foi lá que Flávio Alves descobriu as grandes qualidades da raça Angus, iniciando ali a forte relação entre os dois, mantida até hoje. Morando em Alegrete, Flavião conheceu a esposa Ana Luiza (Nana), com quem casou em 1987 e teve dois filhos (João Pedro,28 e Maria Eduarda,27). Em sinal de confiança, o sogro Mário Severo dos Santos, falecido em 1999, lhe entregou a Cabanha Santo Antão para administração. “Me deu total liberdade para manejar e fazer acasalamentos. Aí foi fácil pegar um gado com consistência e trabalhar em cima. Serei eternamente grato ao meu sogro pela confiança”, diz.
Em 1990, recebeu convite para ingressar no quadro de inspetores técnicos da Angus, na gestão do então presidente, Reynaldo Salvador. Flavião começou a desenvolver na casa dos outros, o mesmo trabalho que fazia em sua casa. Trabalhar com a Angus modificou radicalmente a sua rotina, o médico veterinário vive diariamente em função da raça. “Entrar em uma propriedade e iniciar um trabalho de melhoramento do rebanho através de seleção e acasalamentos direcionados é muito recompensador, pois os frutos são colhidos por ambos gerando muitas vezes uma grande amizade”, admite com a convicção de quem seguiu o caminho que trilhou para si.
Em poucos anos como técnico, começaram a surgir convites para palestras e julgamentos de animais em exposições. Hoje, contabiliza ao redor de 50 julgamentos, no RS, SC, PR, SP, Uruguai e Argentina. Ainda na década de 90, iniciou uma etapa até então desconhecida, a docência, a partir de um convite para ser professor universitário, na disciplina de Bovinos de Corte, função que exerceu por quase dez anos, na Urcamp, em Alegrete. “Posso garantir que ter sido professor foi um divisor de águas em minha vida, pois convivendo com jovens com a função de ensiná-los, tive a certeza de que aprendi muito mais do que ensinei e isso foi muito gratificante. Tive a constatação de que a vida é uma eterna renovação, a nossa passagem aqui nada mais é do que um ciclo, no qual temos que transmitir aos outros tudo aquilo de bom que aprendemos”, observa. A carreira de professor, no entanto, não foi adiante. O inspetor técnico teve que decidir pela sala de aula ou pelos 5 mil quilômetros mensais na atuação com a Angus. “Hoje, tenho colegas na Angus com a idade do meu filho e isso me gratifica bastante, pois é a necessária renovação da vida. É a Angus que segue”, finaliza.
Formação: Medicina Veterinária na PUC Uruguaiana
Natural de: Porto Alegre (RS)
Região de atuação: Rio Grande do Sul e Santa Catarina
Qual foi a primeira vez que ouviu falar na raça Angus: Quando pequeno, seu pai o levava na Exposição do Menino Deus, em POA. Na época, ainda não existia a Expointer.
Há quanto tempo atua junto à Associação Brasileira de Angus: Mais de 25 anos
Uma receita infalível com carne Angus: Assado na brasa com sal grosso preparado pelo filho João Pedro Alves
Um rebanho inesquecível: Schaff Angus Valley, nos EUA.
Texto: Carolina Jardine
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