Adversidades da agropecuária em debate na Jornada do Nespro
- Dia 01/10/2015

As dificuldades enfrentadas pelos pecuaristas na conjuntura política e econômica brasileira foram abordadas nesta quarta-feira (30/09), durante o painel final da 10ª Jornada do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), em Porto Alegre. Desafiado a falar sobre “Os Vetores para o Futuro da Bovinocultura de Corte”, o presidente da Associação Brasileira de Angus, José Roberto Pires Weber, destacou a incerteza do cenário nacional, o que vem dificultando um trabalho de longo prazo por parte dos pecuaristas. “Como querem que façamos projetos para o futuro se o Plano Safra é anual e as regras mudam a toda hora. Estamos sobrevivendo nesse momento, mas nosso planejamento fica dificultado pelas ingerências de ordem política, moral e financeira”, ponderou. Apesar das dificuldades, o criador reforçou que os pecuaristas brasileiros vêm superando as adversidades e avançando substancialmente em produtividade. “Não há outro país que possa alimentar a população mundial. Nós vamos ser os grandes atores para alimentar o mundo”.
Weber citou dados preliminares de um novo estudo, ainda não divulgado, que indicam que as propriedades agropecuárias que mais investem em melhorias são, surpreendentemente, as que vêm obtendo menor receita líquida, um sinal do alto custo da tecnologia e da baixa capacitação da mão de obra no Brasil. Por isso, recomendou aos criadores cautela ao realizarem investimentos de longo prazo em uma economia mutável como a brasileira. “Queremos dar renda ao produtor. No Brasil, parece que é feio se falar em lucro. Queremos que o criador de Angus ganhe mais. Competência não nos falta. O que precisamos é ter um cenário de certezas para fazermos o nosso trabalho” , pontuou ele, lembrando que há falta de carne certificada Angus no Brasil.
Durante sua manifestação, Weber destacou o trabalho realizado pela Associação Brasileira de Angus para que o país deixe de ser um exportador de commodity e ingresse nos segmentos de cortes voltados para culinária e mercado gourmet, dois setores que pagam mais pela carne nacional. “Vamos exportar carne Angus do Brasil e, com isso, buscar a valorização da pecuária”, frisou. O presidente da Angus ainda informou que a raça já realizou os primeiros embarques da carne identificada Angus para a Europa, processo que deve se intensificar nos próximos meses, devido à adesão da raça à PGA e à assinatura do Protocolo Angus no primeiro semestre.
No mesmo sentido, o presidente da Abiec, Antonio Camardelli, falou sobre os avanços da pecuária nacional e dos cuidados que os criadores e técnicos devem ter para maximizar os ganhos de toda a cadeia. “No passado, se falava em produzir boi. Agora, precisamos pensar em produzir carne”, destacou. Segundo ele, é preciso produzir os animais que o mercado internacional busca. “Hoje, vendemos a carne e saímos atrás do boi. É preciso saber o tamanho do sapato”, frisou o dirigente, ao apresentar números que comprovam a capacidade de expansão de vendas para grandes consumidores como Estados Unidos, Japão e Coréia. Ele informou que o Brasil, em breve, deve ter um novo adido agrícola no norte da África para intercambiar as negociações da produção brasileira com países como Egito e Argélia.
O painel, que foi conduzido com maestria e bom humor pelo consultor internacional Francisco Vila, ainda contou com o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Gustavo Junqueira, e Fernando Lopa, da Associação Brasileira de Hereford e Braford.
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